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sexta-feira, 1 de maio de 2015

CRIANÇA TEIMOSA



CRIANÇA TEIMOSA



Não, não me mande ir dormir!  Pois se é na noite que a alma desperta, e traz com ela as emoções mais nuas, nuvens envoltas no breu que encobre as ruas...
E traz as preces mais raras, as horas mais calmas, a inspiração exata, o silêncio que nos faz ouvir o diálogo entre as estrelas e a lua...
Oh, por favor, mais uns minutos!  Ainda que você diga que pareço uma criança teimosa, muito embora minha infância esteja (quase) tão longe quanto o dia que sucede a aurora...
Pois é na noite que meu peito se inflama de um jeito que quase rompe o pano de minha pele e expulsa as palavras sufocadas no decorrer das horas que nos obrigam ao labor...
Pois se é justamente no negro da escada do tempo que a gente sobe até encontrar o céu onde me dispo do meu véu de cidadã e desnudo minhas meiguices de amor...
Criança teimosa eu sou, pois de que aproveita a vida senão esperar morrer o dia pra renascer em poesia?
Sim, luto contra o sono perverso que insiste em camuflar meu inverso, que é exatamente a minha verdade, o incenso que transborda o odor dos meus versos...
Amanhã eu acordo com o caderno florido de escritas, porque o meu jardim interno semeou na noite as flores que irão desabrochar seus matizes de cores, beleza mais profunda do meu ser liberto nas palavras...
Deixa-me por mais um pouco, pois que a vida é como o vento, e dela não posso partir sem deixar as marcas dos meus inventos...
E só na noite eles encontram alento pra caminharem lentos e cadentes, do meu âmago para o coração das gentes...
Sou pássaro livre, voo no deserto do meu próprio limite...
E pouso onde escolher o meu Ide.


@Cristina Lebre – 21.04.15

Código em RL – T5223771